segunda-feira, 27 de maio de 2013

Os peregrinos

Edith

Um carro passou em alta velocidade na precária estrada. A poeira subiu tão alto, formando figuras distorcidas no ar. Um senhor pegou um ramo que o forte vento quebrou, e que tinha ficado preso na cerca de arame farpado. Ele conseguiu pegá-lo para abanar o pó que se acumulou em sua bata, de um tecido marrom encardido. Quando tirava a poeira com as poucas folhas que sobraram, as jogava sobre os outros peregrinos que se arrastavam naquela procissão.
Eu vi naqueles rostos sofridos pela longa caminhada que ainda tinham de andar em íngremes ladeiras, costeadas por estátuas de cerâmica representando as catorze estações em que Jesus parou durante a via sacra até o calvário. Eram pessoas simples, despojadas de vaidade. Só o rosário, alguns amuletos ou flores. A maioria de pés descalços, outros com vestes franciscanas, ou longas batas que quase arrastavam no solo pedregoso. Os cajados de madeira rústica, cheios de farpas, pesavam naquelas mãos calejadas. Até pesadas cruzes sobre os ombros carregavam.
Confesso que chorei, me apiedei daquele povo sofrido, ingênuo, dominado por uma fé cega, doentia. Será que Deus quer isso de seus filhos?
A estátua do Padrinho Padre Cícero é linda, toda branca, um enorme monumento no pico do morro. A vista de Juazeiro do Norte é maravilhosa.
Quando conseguimos desviar dos romeiros, ainda estavam na primeira parada, é que vi o esforço do motor do carro. As ladeiras são margeadas por pequenas casas construídas a um metro acima da pista, há pedras enormes onde ficam encarapitadas crianças e mulheres. É um perigo! São tantas ladeiras, até chegar ao topo do morro parece que não têm fim. Esta aventura me fez refletir: o que é ser cristão? Será que aquelas pessoas que se deram, se entregaram a Deus na sua luta para orar aos pés de uma estátua não são mais iluminadas do que eu?...

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